O Yoga constitui uma proposta para desenvolver o ser humano rumo a uma notável capacidade de auto controlo.
Desde que se inicia, independentemente do estágio de desenvolvimento em que se encontra, da sua faixa etária, das suas habilitações literárias, das suas crenças pessoais ou da sua classe social, o aluno parte numa jornada de descoberta das suas faculdades físicas, sensoriais e mentais, aprende a conhecê-las, explora-as e desenvolve-as. Três pressupostos básicos, que se vão fortalecendo na proporção do nosso auto conhecimento e à medida que constatamos os efeitos benéficos do Yoga, são essenciais nessa caminhada: Vontade, Entusiasmo e Persistência.
Progredindo na prática abrem-se então novos horizontes, rumo a uma vida mais saudável, feliz e em harmonia com o meio envolvente. Aperfeiçoando o contacto connosco próprios melhoramos também os nossos relacionamentos sociais, as nossas aptidões pessoais, apreciamos com maior gratidão as dádivas da natureza à nossa volta.
O Yoga abraça um vastíssimo número de técnicas, utilizadas em maior ou menor quantidade de acordo com a orientação de determinada escola, mestre ou professor. Estas práticas foram sistematizadas e agrupadas em conjuntos de acordo com a sua natureza, compondo diversas disciplinas técnicas que, associadas, formam uma sequência coerente com os objectivos do Yoga.
Entre as mais completas obras de sistematização encontramos o Yoga Sutra de Patañjali (texto escrito provavelmente no século II a.c.). Reconhecendo explícita e humildemente a antiguidade das matérias sobre as quais escreve e tendo como base a filosofia do Sámkhya, Patañjali classifica em oito partes (ashtanga) ou disciplinas a caminhada do Yoga, estabelecendo o que mais tarde foi denominado Yoga clássico. O objectivo do Yoga de Patañjali é progredir ao longo de cada uma das partes até atingir a oitava, o Samádhi, a suprema consciência ou meditação profunda.
Apesar de conter poucas técnicas específicas utilizáveis na prática, os ensinamentos e a metodologia proposta por Patañjali constituem ainda hoje uma referência para todos aqueles que se interessam pelo Yoga, pela forma clara, concisa e extraordinariamente profunda como é apresentado.
A nossa escola de Yoga, no seguimento da linhagem do Sámkhya e do Yoga, reconhece, perfilha e ensina também o conteúdo indicado nos Yoga Sutra. Junto com essas oito disciplinas ensinamos também outras técnicas e grupos disciplinares que, desde tempos imemoriais, fazem parte do Yoga.
Descrevemos em seguida algumas das disciplinas ensinadas no Centro Yoga de Queluz, quer no seu conteúdo prático quer filosófico, sendo que as oito primeiras constituem a sistematização do Yoga clássico de Patañjali:
YAMA: Princípios éticos de conduta ou de auto controle.
NIYAMA: Alicerces de Yama.
ÁSANA: Posições físicas, sensoriais e psíquicas.
PRÁNÁYÁMA: Técnicas respiratórias de domínio da energia vital (Prána).
PRATYAHARA: Técnicas de abstracção dos sentidos.
DHÁRANA: Técnicas de concentração.
DHYÁNA: Meditação ou suprema concentração.
SAMÁDHI: Suprema meditação.
YOGANIDRÁ: Técnicas de relaxamento físico, emocional e mental.
KRIYÁ: Técnicas de purificação e limpeza orgânica.
MANTRA: Técnicas que utilizam a energia e vibração do som.
BANDHA: Contracções musculares para direccionar a energia vital (Prána).
YANTRA: Instrumentos simbólicos e energéticos de concentração.
PUJÁ: Acções de União e Gratidão com o Cosmos.
MUDRÁ: Gestos e atitudes com influência energética.
MANAS KRIYÁ: Acções mentais positivas e purificadoras.
O Sāmkhya e o Yoga são Filosofias (Darshana ou Ponto de Vista) nascidas no Oriente Asiático, cujas mais antigas raízes remontam pelo menos à civilização calcolítica do Vale do Indo (localizada em regiões que correspondem em parte ao actual Paquistão e Noroeste Indiano) e que se desenvolveram posteriormente em todo o território Indiano. Uma cuidada transmissão oral (e posteriormente escrita) de Mestres a discípulos permitiu que estes antigos conhecimentos sobre as realidades Humano-Cósmicas mais profundas chegassem até aos nossos dias.
A palavra Sāmkhya, vem da raiz Sanskrita Khyā, junto com o prefixo Sam, significando etimologicamente soma, cálculo, enumeração, de onde derivaram as ideias de exposição, análise, investigação, discriminação, discernimento.
É uma filosofia, desde tempos ancestrais indissoluvelmente ligada ao Yoga, que procura compreender a génese e o desenvolvimento Cosmológico e Humano, “enumerando” todos os seus componentes e princípios evolutivos.
A palavra Yoga (lê-se com as vogais fechadas, como em amor), vem da raiz Sanskrita Yuj, significando etimologicamente ligar, unir. É uma filosofia que propõem aos seus praticantes uma forma de vida saudável e correcta, ensinando a explorar e desenvolver as capacidades físicas, energéticas, emocionais e mentais que todos possuímos. A ligação ancestral entre estas duas filosofias advém de o Yoga, com base na filosofia do Sāmkhya, ensinar de forma prática o caminho que o ser humano deve percorrer rumo à plenitude do seu ser.
Estas sabedorias ensinam-nos que o ser humano possui em si amplas capacidades, permanecendo muitas delas ignoradas ou pouco desenvolvidas. Quando mergulhamos profundamente no Yoga descobrimos que temos dentro de nós tudo aquilo de que necessitamos para usufruir de uma vida feliz e plena. Independentemente de modismos, aqueles que praticam com correcção, regularidade e entusiasmo descobrem que é possível ter uma vida intensa, cheia de vigor, e simultaneamente repleta de tranquilidade e equilíbrio.
Enquanto filosofia de vida prática, o Yoga desenvolve uma maior percepção e compreensão de nós próprios. Esse conhecimento permite-nos uma ligação mais consciente com tudo o que nos rodeia, despontando a necessidade de sermos cada vez mais solidários com os seres humanos e com todos os seres vivos.
A consciência ecológica e o interesse por uma sociedade fraterna e justa são altamente estimulados no Yoga através de técnicas específicas e comportamentos adequados.
Hoje em dia milhões de pessoas, homens, mulheres e crianças de todas as idades, descobriram já os benefícios desta disciplina. A esta crescente divulgação têm correspondido diversos estudos médicos e científicos que demonstram as suas extraordinárias virtudes na prevenção e manutenção da saúde física e psíquica.
É reconhecido que as práticas do Yoga agem de forma salutar sobre as diversas áreas do nosso corpo físico e psíquico, conduzindo ao seu desenvolvimento de forma que muitas vezes vai bem além do conceito comum de saúde física.
Embora os seus objectivos mais elevados transcendam em larga medida o bem-estar físico, estamos conscientes da importância de que esta área se reveste na vida de todos nós, pelo que enunciamos de forma sumária alguns dos benefícios que resultam de uma prática regular.
Trabalha o sistema muscular ao nível da tonicidade e da flexibilidade, preparando-o para suportar todas as actividades do dia a dia com vigor e energia.
Actua sobre o sistema esquelético e articular, fortalecendo ou recuperando a resistência e mobilidade dessas estruturas essenciais para uma longa vida activa.
Consolida e harmoniza o bom funcionamento de toda a rede do sistema nervoso, fundamental na acção de outros sistemas do organismo. Ajuda a conter o stress e a ultrapassar sintomas depressivos bem como as perturbações do sono.
Estimula a circulação sanguínea e linfática, permitindo simultaneamente uma excelente distribuição da energia pelo corpo e uma maior capacidade de eliminação das toxinas. Estimula as defesas do organismo e dá ao sistema imunitário capacidade para lutar eficazmente contra agressões externas.
Actua de forma intensa sobre os órgãos estimulando-os através de diversas práticas físicas e mentais a exercerem de forma generosa as suas funções, promovendo o reequilíbrio do seu funcionamento se por alguma razão estiverem afectados.
As técnicas respiratórias regulam o bom funcionamento das vias respiratórias, garantem a máxima absorção de oxigénio e recíproca expulsão de impurezas do organismo, proporcionando uma excelente distribuição dessa energia pelas células do organismo.
Incrementa e regula a acção das glândulas endócrinas, responsáveis pelo crescimento saudável das crianças e jovens e pelo equilíbrio psico-físico de adultos e seniores.
Possibilita uma ligação extraordinária entre o corpo e a mente, permitindo dessa forma uma noção alargada das nossas necessidades físicas e emocionais. A aplicação de uma filosofia positiva na vida diária e a utilização de técnicas específicas que fazem parte do Yoga, estimula a alegria e o contentamento permitindo transpor dificuldades emocionais por vezes enraizadas há longos anos. Diminuem assim em grande medida muitas das principais dificuldades das nossas vidas (por vezes causadoras de perturbações físicas), que têm a sua origem precisamente nessa área.
Apesar dos extraordinários benefícios ao nível da saúde física e mental que ocorrem com a prática regular do Yoga, aqueles que dedicaram tempo suficiente a esta prática referem que estes não constituem senão pequenas migalhas no conjunto das transformações positivas que ocorreram na sua vida.
Ensina-nos sobretudo um conjunto de princípios de conduta ética, uma forma de estar na vida com qualidade, integridade e alegria. Aponta caminhos de liberdade disciplinada e atenta que culminam no objectivo que constitui também uma experiência final do Yoga – o Samādhi – Suprema Meditação. A aplicação das disciplinas e técnicas do Yoga alargam cada vez mais a percepção consciente da grandiosidade do Ser e da ligação ao Cosmos de que fazemos parte, permite-nos discernir a nossa autêntica dimensão, feita de SER-CONSCIÊNCIA-FELICIDADE.
II-30 – YAMA – PRINCÍPIOS DE CONDUTA OU DE AUTO CONTROLE
II-31 – Estes são grandes votos universais, incondicionados por classe social, lugar, tempo ou circunstância.
II-32 – NIYAMA – ALICERCES DE YAMA (AUTO CONTROLE)
II-33 – As questões e incertezas que causam sofrimento devem ser superadas pelo sentimento oposto.
II-34 – Os juízos questionáveis que dão origem a violência e outros, sejam consumados, incitados ou aprovados, são causados pela ilusão, cólera e impaciência. Tenham intensidade forte, moderada ou fraca resultam em ignorância e sofrimento e por isso devemos usar o sentimento oposto.
B.K.S. Iyengar
Edición: KAIROS
Traducción del sánscrito y comentario del maestro Iyengar
Prefacio de Yehudi Menuhin
Texto da contra capa:
“La filosofía del yoga fue descrita por primera vez en los Yoga-sūtras, una recopilación de aforismos transmitida hace más de dos mil años por el sabio indio Patañjali.
Estos sūtras constituyen el primer estudio de la psique humana, y siguen siendo su exposición más profunda e iluminadora. En ellos Patañjali aborda el enigma de la existencia humana y muestra cómo, a través de la práctica del yoga, podemos autotransformarnos, controlar la mente y las emociones, superar los obstáculos de nuestra evolución espiritual y alcanzar la meta del yoga: kaivalya, la liberación del apego a los deseos y acciones mundanas, y la unión con lo divino.
Esta edición única contiene una nueva traducción de los sūtras y también un comentario a cargo del más importante maestro de yoga del mundo, B.K.S. Iyengar, que ha enriquecido el texto con su propia sabiduría y experiencia en la práctica del yoga. El resultado es un libro útil y accesible, de inmenso valor tanto para estudiantes de la filosofía ínidca como para los practicantes de yoga.”
Livro também disponível em inglês “Light on the Yoga Sutras of Patanjali”.
A tradução do texto original foi trabalhada pelos professores do Centro Yoga de Queluz.
O Mándúkya Upanishad é o mais curto dos Upanishads e pertence ao Atharvaveda. Escrito em prosa, consiste em doze sutra explicando a palavra sagrada AUM (OM), os três estados de consciência (vigília, sonho e sono profundo) e o quarto estado transcendente de iluminação, denominado turiya ou caturtha, em sânscrito.
O Mandukya Upanishad disserta sobre a importância do Som Om e do seu simbolismo, objecto central da meditação no Yoga.
Esta sílaba mística, também conhecida como Pranava, é o principal entre todos os mantras pois segundo a tradição todos recebem seu poder através deste som primordial. A natureza do Om é o Absoluto e ouvi-lo ou entoá-lo é como manifestar próprio Ser Eterno.
A tradução do texto original foi trabalhada pelos professores do Centro Yoga de Queluz.
O conhecimento é atingido, não tanto pelo esforço do indivíduo mas através dos Sábios que transmitem esse Conhecimento. As características dos antigos discípulos eram muito marcadas. A aspiração, a perseverança sincera e a devoção que tinham para com o ideal do Conhecimento foi excepcional. Eles alcançaram o conhecimento com muita dificuldade, passando por muitos obstáculos na forma de austeridades, serviço ao preceptor e prática de meditação. O conhecimento é o fruto maduro da excelente flor da virtude. Justiça praticada sem excepções, a própria lei, dá origem ao estado de introversão e contemplação da consciência. É absolutamente necessário que o aspirante ou discípulo seja um contemplativo, para que possa ser receptivo ao conhecimento a ele transmitido. O conhecimento é recebido pela natureza interna e, por conseguinte, não é devidamente recebido pelo extrovertido.
A tradução do texto original foi trabalhada pelos professores do Centro Yoga de Queluz.
Saudações a Kápila, que movido pela compaixão em relação ao mundo que se afunda num oceano de ignorância, construiu um barco com o molde do Sámkhya para atravessar esse oceano.
Para o bem dos estudantes, resumirei brevemente esta ciência, expondo provas, conclusões e razões.
Faça download do texto completo em PDF aqui.
A tradução do texto original foi trabalhada pelos professores do Centro Yoga de Queluz.
Shat-chakra-nirupana ou “Descrição dos seis chakras” é um texto originário da tradição tantrica Śrīvidyā. Constitui o capítulo seis do Śrī Tattva Cintāmani escrito por Swami Purnananda en 1526. Foi traduzido para inglês e publicado sob o título de “The serpent power” por Arthur Avalon, pseudónimo do britânico Sir John Woodroffe en 1918. Grande parte das concepções modernas acerca dos Chakra e da Kundalini baseiam-se nesta tradução.